Josivaldo
de França Pereira
A Bíblia é o padrão inerrante, infalível e
indispensável de qualquer avivamento.[1]
A história e a experiência têm mostrado que a relação entre a Bíblia e o
avivamento é tão intrínseca que é impossível um reavivamento de verdade sem que
ela faça parte dele. Assim, uma vez que a Bíblia é a nossa única regra de fé e
prática, é ela e somente ela que pode nos dar a direção correta e inequívoca
nesse assunto.
Além disso, numa época de tantos extremos
como esta em que vivemos, é fundamental o equilíbrio que só a Bíblia oferece.
Sabemos que hoje existem desde aqueles que veem toda e qualquer manifestação
entusiástica como avivamento, até aqueles que negam a sua existência, ou quando
muito acham que avivamento é a mais nova onda do momento, uma coqueluche
moderna, uma inovação humana sem respaldo bíblico.[2]
É necessário, mais que nunca, recorrermos à lei e ao testemunho. Os extremos
são sempre perigosos e precisam ser evitados.
Permita-me dar um exemplo: Edwin Orr, uma
das maiores autoridades sobre avivamentos, disse que viu duas igrejas nos
Estados Unidos convidando pessoas para suas reuniões assim: "Reavivamento
aqui todas às segundas-feiras à noite", enquanto que a outra prometia:
"Reavivamento aqui todas às noites, exceto às segundas-feiras". Orr
menciona esse fato para relatar um desses extremos em que a palavra
"avivamento" ou "reavivamento" é usada aleatoriamente, como
se o mesmo fosse simplesmente uma produção humana com data e hora marcadas.[3]
Por isso, é imprescindível que um avivamento seja sempre avaliado pela Bíblia.
Observando os avivamentos ocorridos na Bíblia e na História da Igreja, notamos
que os objetos do Espírito eram sempre persuadidos com e para a Palavra.
Avivamento onde a Bíblia não está presente não passa de um movimento avivalista
convencional.
"Um reavivamento", diz Campos,
"que é produto da obra do Espírito Santo na igreja, certamente tem sua
ênfase naquilo que tem sido esquecido por muito tempo: a Palavra de Deus. A
autoridade da Palavra de Deus passa a ser algo extremamente forte num momento
genuíno de reavivamento. A Bíblia passa novamente a ser honrada como a única
Palavra inspirada de Deus".[4]
Não existe verdadeira espiritualidade sem a Bíblia.
Os primórdios do avivamento bíblico
aparecem em
Gênesis. Segundo Coleman , o que se pode chamar de "o
grande despertamento geral" ocorreu nos dias de Sete, pouco depois do
nascimento de seu filho Enos: "Então se começou a invocar o nome do
Senhor" (Gn 4.26).[5]
O nome Enos quer dizer fraco ou doente, o que é deveras significativo.
Considerando o assassinato de Abel (Gn 3.9-15) e o aparecimento cada vez mais
forte de doenças na raça humana, o nome Enos era bastante adequado. "É
provável que fosse um reflexo da consciência da depravação humana e da necessidade
da graça divina".[6]
À parte dessa indicação não existe nenhum outro relato de avivamento no
princípio da história da raça humana. O relato subsequente do dilúvio ilustra
de modo dramático o que acontece com um povo que não se arrepende de seus
pecados.
Depois temos os patriarcas que, por vários
séculos, lideraram o povo de Deus. Sempre que a vitalidade espiritual do povo
se desvanecia eles agiam com a força que promovia novo vigor. O breve
avivamento na casa de Jacó é um bom exemplo disso (Gn 35.1-15). Mais tarde, sob
a liderança de Moisés, há períodos empolgantes de refrigério, especialmente nos
acontecimentos ligados à primeira páscoa (Ex 12.21-28), na outorga da lei do
Senhor no Sinai (Ex 19.1-25; 24.1-8; 32.1-35.29) e no levantamento da serpente
de bronze no monte Hor (Nm 21.4-9).
No tempo de Josué um despertamento
espiritual predominou em suas campanhas, como na travessia do rio Jordão (Js
3.1-5.12) e na conquista de Ai (Js 7.1-8.35). Mas quando terminaram as guerras
e o povo se assentou para desfrutar os despojos da vitória, uma apatia
espiritual se apoderou da nação. Sabendo que seu povo estava dividido, Josué
reuniu as tribos de Israel, em Siquém, e exigiu que cada um escolhesse, de uma
vez por todas, a quem servir (Js 24.1-15). Um verdadeiro avivamento segue-se a
esse desafio, prosseguindo durante "todos os dias de Josué, e todos os
dias dos anciãos que ainda viveram muito tempo depois de Josué, e sabiam toda a
obra que o Senhor tinha feito a Israel" (Js 24.31).
O período de trezentos anos de liderança
dos juízes mostra os israelitas, de quando em quando, traindo o Senhor e
servindo a outros deuses. O juízo de Deus é inevitável. Então, após longos anos
de opressão o povo se arrepende e clama ao Senhor (Jz 3.9,15; 4.3; 6.6,7;
10.10). Em cada ocasião Deus responde as orações, enviando-lhes um libertador
que liberta o povo na vitória contra os inimigos. Um dos maiores movimentos
avivalistas aparece no final desse período, sob a direção de Samuel (1Sm
7.1-17).
Tempos de renovação ocorreram periodicamente
no período dos reis. A marcha de Davi, entrando com a arca em Jerusalém, possui
muitos ingredientes de um avivamento (2Sm 6.12-23). A dedicação do Templo, no
início do reinado de Salomão, é outro grande exemplo (1Rs 8). O avivamento
também chega a Judá nos dias de Asa (1Rs 15.9-15). E Josafá, outro rei de Judá,
lidera uma reforma (1Rs 22.41-50), bem como o sacerdote Joiada (2Rs
11.4-12.16). Outro poderoso despertamento é vivenciado na terra sob a liderança
do rei Ezequias (2Rs 18.1-8). Por fim, a descoberta do Livro da Lei do Senhor,
durante o reinado de Josias, dá início a um dos maiores avivamentos registrados
na Bíblia (2Rs 22,23; 2Cr 34,35).
Ainda, sob a liderança de Zorobabel e
Jesua, outra vez começa a reacender um novo avivamento (Ed 1.1-4.24). Tendo as
intimidações dos inimigos induzido os judeus a interromperem a reconstrução do
Templo, os profetas Ageu e Zacarias entraram em cena para instigar o povo a
prosseguir (Ed 5.1-6.22; Ag 1.1-2.23; Zc 1.1-21; 8.1-23). Setenta e cinco anos
depois, com a chegada de outra expedição liderada por Esdras, novas reformas
são iniciadas em Jerusalém, dando-se mais atenção à lei do Senhor (Ed
7.1-10.44). O avivamento alcança o auge poucos anos depois, quando Neemias se
apresenta para completar a construção dos muros de Jerusalém e estabelecer um
governo teocrático (Ne 1.1-13.31). Uma oração por avivamento e a promessa de
sua ocorrência encontramos também em Joel 2.28-32; Habacuque 2.14-3.19 e
Malaquias 4.
No apogeu de um grande avivamento Jesus
aparece e é batizado por João Batista. Escolhe e treina seus discípulos;
ascende aos céus, deixando-os na expectativa de receberem a promessa do
Espírito (Lc 24.49-53; At 1.1-26). O poderoso derramamento do Espírito Santo,
no dia de Pentecostes, inaugura o avivamento que Jesus havia predito (At
2.1-47). "Marca-se, assim, o início de uma nova era na história da
redenção. Por três anos Jesus trabalhara na preparação desse dia – o dia em que
a Igreja, discipulada por intermédio de seu exemplo, redimida por seu sangue,
garantida por sua ressurreição, sairia em seu nome a proclamar o evangelho 'até
os confins da terra' (At 1.8)".[7]
O livro de Atos registra a dimensão desse
avivamento. Avivamento em Jerusalém, em Samaria, em Antioquia da Síria e em
Éfeso. E de lá para cá são muitos os relatos da obra vivificadora do Espírito
Santo na História da Igreja, como por exemplo, na Alemanha com a Reforma
Protestante do século XVI; o “Grande Despertamento” do século XIX; o
avivamento entre os Zulus da África do Sul, na década de 1960; e na Coréia do
Sul nestes últimos tempos, dentre outros.
A busca por uma vida de obediência a Deus
e à sua Palavra, a santificação do corpo e da alma, bem como a valorização da
moral e ética cristãs, são desejadas ansiosamente num avivamento de verdade.
Que em sua soberana graça e misericórdia, o Senhor nosso Deus derrame do seu
Espírito sobre nós para que possamos, como igreja e povo brasileiros,
experimentar mais uma vez daquele "fogo abrasador", que purifica e
nos santifica para uma vida cristã de obediência à sua Palavra.
"Tenho
ouvido, ó SENHOR,
as tuas declarações, e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso
dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia" (Hc
3.2).
[1] Os termos “avivamento”, “reavivamento”,
“despertamento” e correlatos são usados aqui no mesmo sentido.
[2] Cf. Frans Leonard
Schalkwijk, Aprendendo da história dos
avivamentos. In: Fides Reformata. Vol. II, No. 2. São Paulo: JMC,
1997, p. 61.
[3] Citado por Brian H.
Edwards em Revival! A people saturad with God. England :
Evangelical Press, 1994, p. 25.
[4] Héber C. Campos, Crescimento da igreja: com reforma ou com
reavivamento?. In: Fides Reformata. Vol. I, No. 1. São Paulo: JMC,
1996, p. 45.
[5] Robert Coleman, A chegada do avivamento mundial. São
Paulo: CPAD, 1996, p. 53.
[6] Ibidem.
[7] Idem, p. 61.