Josivaldo de França Pereira
Nem mesmo Davi – que foi um referencial de retidão para todos os reis de
Judá, e um homem segundo o coração de Deus (cf. At 13.22) – superou Ezequias. A
Bíblia declara: “Porquanto Davi fez o que era reto perante o SENHOR e não se desviou de
tudo quanto lhe ordenara, em todos os dias da sua vida, senão no caso de Urias,
o heteu” (1Rs 15.5). O caso de Urias, o heteu encontra-se
registrado em 2Samuel 11, isto é, o adultério com Bate-Seba e assassinato do
marido dela.
As únicas manchas no currículo do rei Ezequias, por assim dizer, acontecem
quando ele, ingenuamente, abre as portas do palácio real aos visitantes da
embaixada da Babilônia, mostrando-lhes toda a casa do seu tesouro, sendo em
seguida repreendido pelo profeta Isaías (2Rs 20.12-19; 2Cr 32.31; Is 39), e por
um breve momento em que “o seu coração se exaltou” (2Cr 32.25), mas logo “se
humilhou por ter exaltado o seu coração” (2Cr 32.26). Ou seja, nada que se
compare aos erros dos reis que foram antes e depois dele.
No sexto ano do reinado de Ezequias (722 a. C.), o Reino do Norte
(Israel) foi levado cativo para a Assíria (2Rs 18.9-11). Oito anos depois a
mesma ameaça de cativeiro bateria às portas de Judá, o Reino do Sul (2Rs 18.13-37; 2Cr
32.1-20; Is 36). A confiança de Ezequias em Deus foi severamente desafiada por
Rabsaqué, comandante do exército de Senaqueribe, rei da Assíria. Eis alguns
trechos da afronta de Rabsaqué a Ezequias e ao Senhor, dita perante os
representantes do rei e o povo:
Rabsaqué lhes disse: Dizei a Ezequias:
Assim diz o sumo rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa em que te
estribas? Bem posso dizer-te que teu conselho e poder para guerra não passam de
vãs palavras; em quem, pois, agora, confias, para que te rebeles contra mim?
Confias no Egito, esse bordão de cana esmagada, o qual, se alguém nele
apoiar-se, lhe entrará pela mão e a traspassará; assim é Faraó, rei do Egito,
para com todos os que nele confiam. Mas, se me dizes: Confiamos no SENHOR, nosso Deus, não é esse aquele cujos altos e altares
Ezequias removeu, dizendo a Judá e a Jerusalém: Perante este altar adorais em
Jerusalém? (2Rs 18.19-22; cf. 2Cr 32.9-12).
Assim diz o rei: Não vos engane
Ezequias; porque não vos poderá livrar da sua mão; nem tampouco vos faça Ezequias confiar no SENHOR, dizendo: O SENHOR, certamente, nos livrará, e esta cidade não será entregue
nas mãos do rei da Assíria (2Rs 18.29,30; cf. 2Cr 32.15).
Mais adiante o rei da Assíria enviaria mensageiros a Ezequias com uma
carta, dizendo: Assim falareis a Ezequias,
rei de Judá: Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo: Jerusalém não
será entregue nas mãos do rei da Assíria. Já tens ouvido o que fizeram os reis
da Assíria a todas as terras, como as destruíram totalmente; e crês tu que te
livrarias? (2Rs 19.10,11).
O que temos na sequência é uma das mais belas orações da Bíblia: Tendo Ezequias recebido a carta das mãos dos
mensageiros, leu-a; então, subiu à Casa do SENHOR,
estendeu-a perante o SENHOR e orou perante o SENHOR, dizendo: Ó SENHOR, Deus de Israel, que
estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinos
da terra, tu fizeste os céus e a terra. Inclina, ó SENHOR, o teu
ouvido e ouve; abre, SENHOR, os teus olhos e vê;
ouve todas as palavras de Senaqueribe, as quais ele enviou para afrontar o Deus
vivo. Verdade é, SENHOR, que os reis da Assíria
assolaram todas as nações e suas terras e lançaram no fogo os deuses deles,
porque deuses não eram, senão obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso
os destruíram. Agora, pois, ó SENHOR, nosso Deus, livra-nos
das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus (2Rs 19.14-19; cf. Is 37.14-20).
A resposta à oração de Ezequias veio através do profeta Isaías com a
promessa da destruição do exército assírio pelo próprio Deus, como de fato
ocorreu (2Rs 19.20-37; 2Cr 32.21-23; Is 37.21-25). Tempos depois o rei Ezequias
adoeceu duma enfermidade mortal. O profeta Isaías foi até ele, dizendo: “...
Assim diz o SENHOR: Põe
em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás. Então, virou Ezequias o rosto para a
parede e orou ao SENHOR,
dizendo: Lembra-te, SENHOR,
peço-te, de que andei diante de ti com fidelidade, com inteireza de coração, e
fiz o que era reto aos teus olhos, e chorou muitíssimo” (2Rs 20.1-3).
A soberania divina não vê inadequação na oração
pela cura, pois tanto a oração quanto a resposta de Deus são parte de seu plano (cf. 1Rs 21.29; Ez 33.13-16; Tg 5.15,16). O Senhor Deus ouviu a oração de Ezequias, viu suas lágrimas e o curou. Acrescentou-lhe
mais quinze anos de vida, e ainda prometeu livrá-lo definitivamente dos
assírios (2Rs 20.4-7). Tudo isso porque Ezequias, do começo ao fim de seu
reinado, confiou no Senhor seu Deus.